segunda-feira, 28 de novembro de 2011

LESTE (de Marcos Salvatore)

by Jacques Henri Lartigue

nada há vários dias...
então fiz o que pensei ser verdade:

calcei as sandálias
e fui atrás do antigo percurso

revide brutal e inútil
à favor de algo parecido
com sair do lugar

apenas... deixar-me atrair
por uma esquina
depois outra

semelhante a notar
meio curioso
o andar de outro semelhante

outro humano
janelas num firmamento predial
calçadas
um oeste de longos cabelos

tempo de existência singular, alegórico
em que o uso das pernas
é a engrenagem rudimentar
de um fato corajoso e ingênuo:

“ir”
jamais tornar
apenas...
ir, arriscar

me faz lembrar que tenho umbigo para olhar
que o coração tem que bater
e que a lama que escorre do peito
é de suor e poeira

sou um mudo, um refratário
cada pessoa é outra cidade pra mim

até correntes de ar me fascinam
casas de madeira
vizinhas e tias
catadoras de lêndeas

música estrangeira

mas...
se a manhã continuar assim
sobre a luz, sobre mim
posso errar o caminho

e dar de cara com a idade
e com a perda de Deus
e o ganho de peso ocioso, pensativo

e lembrar que também já me perdi
e depois de perdido me lembrar
que já não vivo mais aqui
que me perdi enquanto esperava

e perdido estou
internado na largura
do outro lado da rua

árvores, anúncios e brigas
passadas amarguras

paro pra comprar um livro no sebo da esquina
uma chorada pra morrer nuns cinco contos

edição de bolso, excessiva
narrativa de foder com a alma
de não se arrepender

depois...

malas prontas
livres

delegacias
livres

palavras cruzadas
livres

anteontem
livre

muitas vezes
livre

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