Baby, me ouça contar tudo
Estou com isso preso na garganta,
Como um pomo-de-Adão
Me soletrando as sílabas
Senta aí, depois cala essa boca
II
O proveito da terra
É a serventia do pão
E eu me pareço com meus erros
Toda vez que deixo passar meu coração de mão em mão
Preciso de um porre que coincida com a perda de tudo
Com a falta de vergonha na cara até de chão pra me jogar
Não existe palavrão que não tenha sido dito - isso eu posso assegurar
Brincadeira tem hora certa de parar e a gente estaca
Um em frente ao outro
Respondendo, reagindo, atacando
É difícil acreditar em tudo
Depois descobrir que nada é importante
As pessoas se contentam em seguir adiante
Depois do sinal verde, irrelevante
III
Está tudo em cima
O cigarro, o lugar e o vinho
Uma mesa de vidro suja
Em cima o perfume que você usa.
Que seja assim para lembrar
Toda noite eu te procuro e te envolvo
Me sento, me finjo de morto
Me ponho em seu colo e choro
Eu te agarro, e te levo pro bar.
Depois te deixo com a conta pra pagar
Foi você quem quis assim - eu te avisei
Assim não há ninguém que aguarde
O meu amor é assim, se deixa levar.
Mas sou teu amigo sem cobrar
Esse lance de idade suja a barra pesada
Do que eu sinto por você
As tuas coisas, os teus peitos, a tua boca
Só me dão prazer quando eu cobro
Você é a mulher do meu mundo evanescente
IV
Porque o dia nasceu,
Tem mais gente nas ruas,
Alguns em cima da hora,
Outros dando em cima de alguém.
De que vale a sensação de coisa inteira?
Deve ser pra se fechar, se ignorar
Ou então pra terminar o que se começou.
Pra se abraçar ao beijo que ainda não rolou.
V
Talvez você já desconfie
Mais ou menos como uma letra ou quatro
Que sempre cabem num melhor lugar
Bem felizes por mostrar o que se sente
Estou complicando demais, pode crer
O que eu tenho pra dizer é bem mais simples
Não é difícil de se ver, mas de dizer
É um sentimento bonito, arborizado como um bairro antigo
Mas quer saber de uma?
É melhor não dizer nada.
É preciso viver o gosto.
É preciso viver.
Isso tem um ano. Escrevi enquanto esperava pela van. Duas, três da manhã. Um casal discutia relação, um tiozinho bebia café na tiazinha do completo, dois policiais jogavam cartas e eu curtia um porre elementar. Gostei do resultado. Não é linear, nem objetivo. Mas me faz voltar no tempo, o que é uma merda.
ResponderExcluirMas o texto é seriíssimo.
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