sexta-feira, 6 de maio de 2011

CAULE (de Marcos Salvatore)

by Aydin Aghdashloo

Voltei a roer as unhas como acessório de tortura despecada. Tenho vícios engraçados: me apaixono por te esperar. Por te encontrar. Não por você. Não existe nós dois. O que se apresenta é alguém ao meu lado. Necessidade básica, elementar, mas muito cara. O que comunica dizer que se persegue um sonho? O prazer não contamina, estamos sós. A dor não contamina, ela é personalizada. Nosso condutor de seivas não sustenta a copa inteira, pesarosa. Estamos enganados, inevitavelmente, quando compactuamos com a pressuposição da potência... só porque sonhamos com a borracha pra apagar as horas e horas de reserva avariada. Já se passaram dois cigarros desde que decidi parar de fumar. Dois ou três goles não são suficientes para embebedar uma idéia obsessiva. Greve de ônibus... chuva de tarde... ruas alagadas... comerciais... e um coração que não para de bater por alguém – não para por ninguém (não para de bater, não para): - “Quer sentar? Quer um café?”; “Pode ficar, se quiser.”; “Do que quer que eu te chame?”; "Quer meu pau? Quer um refrigerante? Conheceço malabarismo com maçãs."; "A genitalidade do amor é tão impessoal, por isso romances, contos, poesia, chá de catuaba, desculpas, perdões, sermões... tudo culpa sua, nunca minha, me tira dessa."  Não deu pra te fazer gozar daquele jeito. Seus preceitos não são meus preceitos. Talvez se você deixasse de lado a mania de perfeição; esse tom barato de cinderela. "Que idéia!!" Isso é tudo: com você, longe de você. Só mesmo a burrice, porque sonhar não é a solução. Mesmo assim... eu te amo. Fica comigo. Foge Comigo. Vem, que no colchão cabem dois corpos, na cozinha tem fogão de duas bocas, geladeira. Banheiro com banheira, pra gente ficar de molho juntos, refogados, entrelaçados. Duas cópias da chave da porta da frente; uma terceira sobressalente, embaixo do tapete. Eu sou o mesmo, venha, sim.


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