Música: Carlos Solaris
A banda Mal Nenhum era composta por insanos, vagabundos e famintos. Mesmo depois de 10 anos, olho essa música e não consigo deixar de sentir a mesma arrogância e vulgaridade desconfortáveis da época em que tocávamos pelos pontos de ônibus da BR 316. A fita cassete (hoje perdida) gravada na minha cozinha contava com quatro canções: Br 316, Gonorréia Vocal, Interlúdio e a minha preferida: Blues do fim da tarde. (minha ex mulher tentou me matar dois dias antes) Todas compostas sob o furor de uma indigestão amorosa de macarrão com sardinha e taças e taças de vinho barato. As letras de temática perversa, masoquista, as melodias distorcidas pelos violões de cordas sujas e minha voz ainda forte, segura de sua desafinação, ainda não massacrada por noites e noites de sórdidas madrugadas, mostravam claramente o quanto eu andava ferido, indignado e chocado. As canções viraram mito, lenda. Ninguém sabe o que aconteceu com elas, mas continuam sendo tocadas por aí, em algum lugar empoeirado, mal iluminado e fedido. Gosto de pensar que mudamos para melhor, mas até onde sei continuamos meio insanos, vagabundos e famintos. Ave Carlos Solaris, onde ele estiver.
Eu quero arregaçar
de esquina em esquina
Tentando me acertar
Com a pessoa errada, uma mina
Imatura, fútil, mal passada
Me enchendo o saco com um monte palavras
Que eu cansei de ouvir
De sentir, de repetir
Eu quero o meu sossego
Grana, um amigo, um emprego
Pra valorizar sem exagero
Convite pro fim da festa
Soltando meu confete em todas as brechas
Entornando álcool, anticomprimidos
Sem sentidos semidepressivos
Isso nunca vai acabar, você tentou me matar
Não vou te ferir, não vou te machucar
Não sei lidar com isso, por isso
Vou cair na farra antes do bode chegar.
Bem, agora eu já me decidi
O melhor é sair por aí
Você não sabe quem é,
Você não sabe de mim
Mas fazer o quê se terminou tudo assim?
Se aquele lance acabou, teve fim?
Se o nosso amor nos deixou, nos passou
Uma gonorreia vocal?
GONORREIA VOCAL!
GONORREIA VOCAL!
GONORREIA VOCAL!
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