quarta-feira, 6 de abril de 2011

MELLOTRON (de Marcos Salvatore)

by Francisco Brennand

faz que me nega, mas me dá...
e a carne corre sem pedágio
ou infusão ou Banho-maria,
nem vaga para estacionar

me dá luz e me leva
para o insalubre isolamento compulsório do amor
se eu correr em contra mão
no amor, na tua rua...

me para com um beijo na testa
pra que esperar? pra que festa?
me diz , me diz, me diz
me convence a pegar o beco...

em largo espectro, em gosto de "boceta"
enquanto a gente se ama num devagar divergente
na hora depressa dos bêbados ingênuos
de refinado vinho tônico

extraído de suor choroso, polifônico
prato cheio de imperícia da alma,
quase nada em ginga pura
apenas caldo da calma


terça-feira, 5 de abril de 2011

LARVA (de Marcos Salvatore)


Soldadinho

E a noite leva,
A esperança daqueles que se deixam levar
Você acorda difuso, com cores de um tom de cinza na cabeça

E o dia leva,
Os cinzeiros cheios ainda com chamas acesas.
Sujos de batom barato.

E a tarde leva,
Tudo aquilo que chamamos pelo nome de encontro aos apelidos e gírias

Corrijo o poema nas cordas vocais
Percebendo os erros gramaticais da embriaguez presumida
A liquidez que me deu correnteza
O sexo também

Num balcão de bar, num furacão
Num desabafo de reafirmação
De alguém que não nasceu
Para lutar por lutar


Essa canção
Pode trazer e trará
para os meus braços apertarem
a dona dos primeiros parágrafos


a dona do meu coração

Só me resta prosseguir evitando pisar nos insentos
Cabeça feita, pé no chão
Meu all star pede descanso e eu me sinto inteiro
Por onde passo, em todos os lugares


e lembranças

“pelo menos ela, pelo menos ela veio”
Eu volto, eu agarro, eu dobro do avesso
Eu quero, e procuro o que procurar
Eu amo

em eterna troca de lugar.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

TECIDO (de Marcos Salvatore)


Os dias na praia pareceram baseados fundamentalmente no consumo de almas sãs dentro corpo insanos.
Sei lá o porquê.
Em todo caso, todas as náufragas deveriam ser belas, como ela.




sexta-feira, 11 de março de 2011

LUPANAR (de Marcos Salvatore)


Um amigão desce do carro visivelmente alterado, flutuando sobre colchas estampadas, sobre ninfas da galáxia , senta ao meu lado, dá um sorriso daqueles muito bem guardados; eu pergunto:
- E aí? Tudo em cima?
E ele responde, num híbrido de nada com coisa nenhuma, faz suas sobrancelhas gargalharem de forma maligna e diz:
- Bais ou benos?!
(...)
Guenta!
Levanto, atravesso o corredor e chego até um concorrido pátio pra tomar um ar. Encontro uma amiga que lá pelas tantas me fala sobre ruas, avenidas, alamedas...

Denunciar · 20:41
Adoro essa palavra, "alameda".
"Abajur" também é o máximo.

Denunciar · 20:41
rsrsr

Denunciar · 20:41
Curto pra cacete trabalhar com palavras estranhas.
Minha obra esta repleta de coisas intrigantes.
Gosto disso.

Denunciar · 20:42
Use então a palavra "pornofonia"

Denunciar · 20:42
A pornografia vai passar. O que vai ficar realmente é a idéia.
"Pornofonia"? Taí!
Valeu a dica.

Denunciar · 20:43
Tem outros termos da psiquiatria que são bem interessantes.

Denunciar · 20:43
Vou escrever a estória de uma secretária que espera o chefe sair para se masturbar. Que tal?
Uma psicóloga que resolve ganhar uma grana realizando as fantasias dos clientes.
Puta também cobra por hora., Ou não é?

Denunciar · 20:45
Tipo assim, uma fuleiragem para manter os meus níveis hormonais.
Uma patifaria saudável.

Denunciar · 20:47
Pô, pera lá. Também não é assim. Ou será que é?

Denunciar · 20:50
Bais ou benos?!

(...)

sexta-feira, 4 de março de 2011

AQUÁRIO (de Marcos Salvatore)

by Patrick Earl Hammie

Fizeram amor pela manhã, pela primeira vez. Dois criados mudos. Um abajur (ótima palavra). Lençóis. Travesseiros no chão. Um baseado amassado que ela guardava num sapato de salto quebrado, difícil de acender. Ela diz no seu ouvido: “vou apertar mas não vou te chupar agora”. Eles riem. Ela conta os sinais do seu peito, atenta, um a um. Ele acaricia os seus pêlos notando um sinal de nascença entre as suas dobras macias: - “Feliz aniversário”. “Você já me ama?”. “Vai ficar comigo?”. Passam batom nas duas bocas. “Você vai trabalhar hoje?”. “Eu vou”. Precisam trocar as cordas do violão. Precisam se decidir a qualquer momento. Comeram na cama, sem talheres, sem pratos, com as mãos: "me dá "uma bucada". A gatinha e o Capitão Caverna. Ele caminha pela casa, nu, abre a geladeira, mexe nas panelas, observado por ela. Brincaram com a comida. Dançaram tango, manbo. Desarrumaram as gavetas. "A sua voz me acalma". "A sua voz é quase outra pessoa". Cabra cega; até aí morreu o Neves, pira-se-esconde, bandeirinha, cemitério, boca do forno. “Me dá mais um gole”, “aquele que matou o guarda”. “Ainda tenho meio hora”. “Obrigada... pelo presente”. “Eu não sabia que um homem podia ter tantas pernas, tantos dedos, tanto... peso”. “De onde você veio?”. “De outro país”. “É só virar à direita antes da Alça”. Os peixes não têm braços para abraçar, por isso usam os olhos, as escamas... a boca. Certas brutalidades táticas não têm “faz de conta” nem hora certa pra acabar. “Imita!”, “Imita!”. “Imitar o quê?”. ”Imita o Peréio”. – “Reage, porra!!!”. Eram dois:

terça-feira, 1 de março de 2011

AO MESMO TEMPO (de Marcos Salvatore)


 


Não via graça em tantas piadas

Perdido pelas noites, pelas margens

Páginas recomendadas que vão lá, onde está a fome



Não tenho tempo, não

De ficar num só lugar. Quero estar longe do núcleo.

Estou sempre onde? Onde?



Terceira pessoa deste poema sem rima, sem lar. Um homem

Um fantasma, um personagem de mangas dobradas

Depois de ter me alimentado das suas intenções

Eventos e fotos. Mistério da cultura porra-louca



Como foi bom sair do bar pra sua cama

Só não transei com a obsessão por pratos e talheres

Eu não entendia, não, a sua solicitação de aniversário

Nem a atenção com os mosquitos e o telhado

 

Ao mesmo tempo em que aprendia a te encontrar, a te significar

Feito um otário armado com pólvora molhada

Sem te localizar a tempo do híbrido fracasso democrático

Podia ter levado mais. Devia ter complicado mais



Mas a vergonha me travou e adicionou tempero ao que estava incompleto




Porque a cidade não se rebelou contra as fitas coloridas?

Sempre atrás de trios e cruzes e tambores

E os palhaços choradeiros batem palma e continência

Querem foder, foder e foder com o público



Aonde tu vais?

Estás indo? Já fostes?

Não é tão fãcil, assim, me confundir

Não podes me culpar sem assumir sua própria culpa



Me teorizando sem prática

Ao vivo, em desconcerto

Onde eu te amo mais agora que já deu?



Chega de recados, de mensagens de abraço

Os ataques e assaltos me alcançaram

E a poesia varrida se espalhou num sopro só



Não espere por mim em coma

Que eu não tenho último beijo eletrônico a dar

Outra pessoa te salvou e protegeu

Completamente, sem se machucar



Ao mesmo tempo, em outro lugar
 

 

 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

ALHO PSICOLÓGICO (de Marcos Salvatore)


A história não é nova, vocês já conhecem: um cara, uma garota, um lance que não rolou.
Mas antes que eu diga a verdade preciso confessar: uma puta chuva lá fora e eu só consigo pensar na moça que chorava, ontem à noite no Boiúna.

Como diria a Ângela Rô Rô: - "Tadinha, bem feito".


Take it easy, baby.

De qualquer forma... paciência.


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

BAR AZUL (de Marcos Salvatore)

by Sara Saudkova

Bar Azul
Não sei se tenho medo
Do latrocida me esperando na esquina
Ou da mesa de amigos rindo ao lado

Enquanto eu estou na minha

Que o que eu escreva se imprima
Ou de lembrar de um amor do passado
Está tudo pronto para eu me confirmar
Eu errei, eu pequei, estive em todos os lugares
Eu paguei os pecados na mesa de um bar.

PRESENTE SURPRESA (de Marcos Salvatore)

by Edouard Joseph Dantan


Já faz um tempo que eu tento
Te encontrar, como quem não quer nada
Rodeando botecos ordinários, é a minha cara
Sempre à fim de um release, de um lance

Se eu forço a barra é porque
Você me desorienta
A psiquê anos setenta
Andrógina, anti heroína

Do menino calado
Atroz e atento


Observador dos detalhes mordazes
Voyer, ladrão de chaves incidentais
Colecionador afetivo à procura
De tantas fechaduras para espreitar
 
A sua



Então vem, que é você
Quem me encontra à própria sorte
Vem, que todos os seus lábios
São também um pouco a minha boca

Tira onda e faz drama
A mim, canalha, apartado e sem rumo
Me reinventa os assuntos: eu digo, eu assumo
Depois da novena, terça na veia e na cama rouca

Presente surpresa



Para depois nos abraçarmos algemados
Aos suores e odores elásticos
Às confissões perturbadoras de dores
Da gangorra do passado comprometedor

Para depois desaprender a zoar por aí
Na desordem da hora da gente ir dormir
Pouco importa o que é ganho, o que é conto,
O que eu escrevi e o que não
Sem pensar no que vinha a seguir

Eu estou agora
Eu sou aqui

Um caduceu de amor, de prazer e valor
Hiper-russo conjugados no futuro que agora eu te devo
Improvisado no conflito do meu pau
Com suas ancas macias

Sem alma, jogo limpo na mesa de som
Religião, sem muro, sem furo ou tristeza
Apenas tudo que é lindo à cada dia
Tudo salva de palmas



MOVEDIÇO (de Marcos Salvatore)


by Minjae Lee


Pensando bem, na realidade não parece, pode parecer
Não houve tempo, quer dizer, não de verdade

Parece um poema sem sentido e sem sina,
Parece, talvez seja
Já que caminham as palavras a serem ouvidas e lidas
Só para dar velocidade ao coração

Mas é por causa da lua lá fora,
carinhosa, semblante
Intriga que nos chama a atenção, que anda tão...
Amarelada pelo tempo

Pela polpa sua, areia doce de amante nua e crua
A rima não tem culpa do alter ego nativo
Por amarrarmos os nós da garganta
Com linha molhada de língua

Pra que digamos com os olhos,
Não com a voz que subjuga.
Um corpo minguante e carente de afeição
Deve mesmo ser batizado

Pelo sabor e o licor de uma vagina de puta



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