sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O MARCO DA LÉGUA (de Marcos Salvatore)




sinto sua falta, doce pessoa

nunca entendi sua motivação comigo
com minhas simpatias antipáticas
meu mapa astral rabugento e apático
divertia a todos ao me subverter

não vê que dói não te gostar como eu queria?
consegue sentir o mesmo que sinto?
tua periferia foi minha para andar cambaleante
tuas árvore não, me machucando com seus frutos

sempre gostei mais dos teus abraços
adorava quebrá-los
pra depois bater com eles nas grades
das tuas esquinas

não tinha medo
agora que passou eu tenho?

sou um furtivo caçador de palavras cruzadas
servil catador do lixo cuidadosamente espalhado
sobre a mesa improvisada dos mendigos patriotas
me confundem os teus tiros

brevidade cínica e solvente
pela madrugada

ei,
me dá um lugar pra dormir
pra comer
pra foder

saio pela manhã
deixo café pronto
e uns trocados para o pão
e pela cama

podes crer

fala comigo

posso te ligar de madrugada?
posso chorar no teu ouvido
enquanto procuro por mais digitais
da tua boca no meu corpo?

preciso de reparos
agora que um ano se passou

ei,
me deixa quebrar alguns galhos
e trazer uns amigos
que estão por aí precisando de amigos

querendo ser ouvidos

me dá o tempo que eu preciso pra pensar em nós
um espaço para não me confundir e acabar sendo parte da sua última gaveta
não é lá fora
é aqui dentro que se fere facilmente

à toa, de propósito

uma oração só julga e consome
me deixa insone, contraído, crispado
sem poder admirar tuas alegorias
tua baía

violino de uma única corda
só queria encontrar todas as notas
e te ver sorrir de novo

meu deus fede comigo
bebe comigo
me vê por aí te procurando, perguntando “cadê?”
e ri, lá de cima

não, ainda não

te assino no subjuntivo, baby
hesitante da própria euforia contida em todas as garrafas
idéia difusa do suposto romance com a solidão

contida na minha pesada cabeça


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