terça-feira, 28 de junho de 2016

LATENTE


Aconteceu há algum tempo, mas foi legal, pra caramba: Minha tia, assustada com o fogo no prédio da Receita, pega e me joga da cama:
- Te "alevanta!".
Segunda-feira incendiária; merece uma, depois duas e todas, para que eu comece a semana oficialmente doidão.
- “Brejeiro é o caralho!”, disse o morador de rua sebento, enquanto coçava o cu com a mão e mancava, ao mesmo tempo.
Cheirou os dedos, depois atravessou a rua. Veio na minha direção, com a mão estendida e dócil.
- Descola um troco aê, Tio. Num é pá droga, não. Só tô fungando, assim, por causa de virose. Dá, aí. Com fome.
Eu tinha acabado de subir (a muito custo) a Carlos Gomes, a ressaca gerou a dúvida entre cruzar a praça ou dar a volta. Calculei entradas e saídas de um possível assalto. Isso deve ser corriqueiro, porque, dando uma última fungada nos dedos, ele aponta para o Teatro da Paz. A fumaça da Receita subia.
- Da pá entrá. Da até pá passá por lá... Se tu num se acostumá com isso.
Pago dois contos pela consultoria e sigo pelo famoso corredor da praça.
Estamos todos aqui, mantendo a cidade acordada, penso, - trabalho que dá sede e vontade de rimar nomes de ruas, com bancas de tacacá.
“Preciso verificar minhas mensagens”. O pensamento ajudou. Me deu a sensação de seriedade possível, de ordem.
Ao lado esquerdo da caixa de entrada, sinalizados em verde, os nomes de amigos. Não sei quantas histórias entrelaçadas com todos. Perdi vários.
Ontem, antes-durante o porre, resolvi dar um trato nas gavetas. Pego e encontro aquela foto podre de fuleira que a Feijão tirou de mim lá, no Mangal. Já levou o caldo.
Belém é uma cidade macabra. Tem sempre alguém escondido em publico, pronto para te perguntar as horas. Nunca decido o que sentir pelo lugar.
O horário político é puro Satyricon, com violinos. Me amarro em ver as tias pingando, doidas para abraçar e beijar candidatos. Meu Deus!
Meu coração, pela manhã, quer ser um peixe-boi. Não quer submergir nem para respirar. Quero apenas o pesar. Desejo o fútil ornamento de toda identidade.
Chega de prorrogação - o jogo é “Poder se entregar”.
Só me lembro do poema, aos berros, para Celi, da carona e de gritar pra ela: - “Você é a minha Brigite Badot, com violinos!”.
Não tive medo em frente ao Peixotão com a lua finalmente minha - Filha da puta!
- À toa pra dor, cobrando porque já tá lotado, baby. E eu não te amo, mais.
Não sei como cheguei. Meu coração quicou até aqui, gerenciado por um destemperamento de palhaço de circo navegante.
Deve ser porque eu ando, estou e sou apaixonado por sete mulheres diferentes, de muitas maneiras diferentes. Não depende de sorte nem de coragem, só da historia certa.
Sete notas musicais. Maiores de idade... Às vezes menores, dependendo da lembrança.
Eu devo estar melhor, já que cheguei até a Assis.
Mas... pra quem foi que eu disse aquilo? (...) Como era, mesmo?
-“ Só acredite nas mentiras certas. Não se importe com quem não se importa.”
Frases feitas sob medida para convencer alguém a me pagar a última. Uma mulher.
Uma mulher de cabelo Chanel.
Nunca confie numa mulher de cabelo Chanel.
Um pagamento solidário e verdadeiro antes do sexo escroto e fácil.
Depois do quarto vazio, durante o espelho, escrito no meu peito com líquid paper: - “A transmissão foi uma delícia. Esqueça as feridas indolores e concentre-se em nervos, olhos e coração, Bem”.
Eu devo estar acostumado com a melancolia.
(...) E, estar assim, deprimido, me torna inaceitável, dispensável, irreverente e, principalmente, inconsequente demais.




quarta-feira, 8 de junho de 2016

NÃO me NEURA


Um puta sono, uma puta insônia, uma puta manhã com luz de Da Vinci, um puta som das Frenéticas no rádio, cheiro de alguém ao lado, um cigarro, um vinte: noite de "tocamentos desonestos" no meu ninho colonial. A pregação vazia e interesseira ronda os bairros em busca de sexo e gado. Mas essa afirmação é casual. Remo X Paysandu: tiros, fogos de artifícios, barras de ferro, bombas caseiras. Quem apostou em erros, em pelo menos uma pessoa morta ganhou. A não ser que o progresso da humanidade tenha algo a ver. Hoje é o dia de alguma coisa, me fez pensar nos últimos concursos e nos próximos 206 dias para o final do ano, em cartas de amor e requebros estatais. Eu acho que por aí deve haver gente lidando com tais e tais ocupações. Belém amanheceu desbotada e mega exposta as mesmas impressões - consciência da morte de uma cidade em ruínas. Bondade e boa vontade para todos nós, assim na terra como no céu. Até aí morreu o Tancredo. E a indústria dos concursos públicos já esta dando bandeira. Mas, em todo caso, infelizes mais de 50 anos de ditadura do Brasil. Desgraça por desgraça. E é difícil acordar quem não consegue dormir.  Greve: que saudade dos engarrafamentos, dos assediosos ônibus entupidos de passageiros atrasados etc, etc e, e claro, etc. Bom dia, ainda e no entanto. Belém: algum lugar entre as quatro e as três de puro espanto. Gosto mais das Paraolimpíadas: tem mais superação e é mais emocionante . Pena que a cobertura seja sempre uma vergonha (senão "cínica"). Começou com "vamos em boa hora", depois passou para "vamos embora", em seguida "vombora" e "umbora" e "bora, caralho!", até que ela foi. Quero mais uma chance, Sumana. Lá em baixo a cidade está quase vazia e desumana... cheia de coisas quase de graça, como a atenção que eu te dei. Existe um pouco de dor nessa cidade que precisa ser verificada. E eu não consigo beber sem esperança. Bom dia, tarde e noite.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

CORPUS CHRISTI

Posso não entender o porquê de tantos desentendimentos, mas o alivio é evidente.

BRICABRAQUES


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Encontros e desencontros nas esquinas escorregadias de Belém, segundas intenções, lembranças da Rádio Cidade e da perda de identidade.
Encarnamos o que há de pior no feminino e masculino. Nem sansãos nem dalilas.
Com tanto circo nem da tempo de querer o pão.
Em Belém os out doors dizem sempre "PARABÉNS" e a arte se atomizou em raízes secas.
Arte não é gozo. Arte e absurdo ejaculado, lembranças e historias.
Foi minha vizinha Celina me roubando um beijo: - "Quero morrer na tua boca".
Um dia, no percurso da escola para casa,  o velho tênis se abriu - aconteceria todas as vezes, de uma forma quase infalível -, me fazendo andar vagarosamente e arrastando o pé esquerdo ainda calçado, para que ninguém notasse.
Ainda existiam antigas moradias e eu temperava meus pensamentos com elas, fornecendo mais e mais detalhes: tias velhas viciadas em vinagre e andiroba, filhos surdos acorrentados naqueles porões lamacentos, violoncelos em fotos de velórios expostas em salas, janelas que não se abririam nunca, nunca...
Quase desejei que o tênis se abrisse todos os dias e para sempre. Sendo bem franco, ainda tenho aquela sombra de certeza de que meus calçados foram feitos para isso, mesmo, me abrir para o mundo de algum lugar.
Hoje eu tenho mais pressa.
Ainda doente - preciso parar com os remédios.
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