Sou acusado, e com muito
gosto, de ser “hiperbólico”. É porque a censura, hoje em dia, é cor de rosa,
mas isso não importa, não interessa.
Até gosto do arrimo, mas, foi
uma coisa que não fez nem quatro anos: - “Peraí, Vila. Marcha à ré, ô Rapá!”.
Estávamos ouvindo Tom
Waits, anos 70. Ou era Ben Harper (ou Jorge Bem)? Me senti menos cego, menos
Manimal.
Uma piada atrás da outra.
Esse foi o ponto gravitacional até dobrarmos numa mão única.
Depois de quase atropelarmos
um pastor evangélico – mais parecia um Pai de Santo, com suas pastoretes
(mulheres deliciosas), ele: - “Vai tomar no cu! Eu, não vou mais pra caralho
nenhum. (...) Mas, por quê?”.
- Não sei, volta pro
Beatles. Preciso ir. Vamo lá, porra. Algo me diz para fazer um get back. Preciso
remasterizar minhas intenções de hoje. Ainda estou na ativa, embora tudo seja
um pouco fantasia.
Fiz disso uma vinheta sem
sentido e ele acabou me dando a carona, vencido pelo meu acréscimo de dados
etílicos.
Deveria fazer uma pausa
para dizer que, naquela noite, o Bigode do meu Tio se reuniria pela última vez
(meus irmãos com o Sagrado).
O fato é que uma vontade incontrolável
de tomar uma saideira no Jurunas se instalou, solidamente, no meu nauseado
coração.
Poderia ser fome de
cultura pop ou de rockão esperto (ou uma necessidade de ser higienizado partidariamente),
ou vontade de encontrar alguém para ir dormir.
Limão com cachaça postiça?
Mistura fina? Aquele lado B, bem pedra? Não, era outra coisa.
E estivemos lá, uma ou
duas horas antes.
Depois, o Boiúna: - “Oiii,
tudo bem?”.
Alguém cantando Djavan
parecia babar: - “uh, açaí, guariroba...”.
Aliás, todos os arquétipos
anacrônicos que regem a vida, passam por lá. Acho isso meio pré-menstrual ou
pré-TPM administrativo. Não vem que não tem.
Não gostaria de mediunizar
um dos encontros mais importantes da minha vida, mas, Vila (eu chamo o Marlon
de Don Vila) me deixou na esquina da Bom Jardim e, com aquela candura brôu, que
lhe é peculiar, finalizou: - “Te cuida, aê. Ah, e se tu ligares e colar de eu
estar acordado e não atender, é isso mesmo”.
Grande Vila. Choramos ao
ler Pedro Bandeira falando de um Plínio Marcus vivo. Vivo!
Leiam “AS HORAS TODAS DA
CARNE”, que o Marlon lançou. É uma reflexão sobre o amor, a morte e o abandono
do ser humano brasileiro.
- Marcos, Marcos! Aqui!
Era eu.
Pirei: - Quem? Onde?
Quando? Ninguém entra, ninguém sai. Quem matou Odette – o melhor cu da praça?
Trezentos e sessenta graus
depois, vejo aquele casal, com um sorriso abracadabra irresistível, acenando
pra mim. Me viram uma, quem sabe duas vezes por ali. Foi o bastante.
É claro que eram a Gleice
e o Wagão, fazendo o maior escândalo (e sem me conhecer). Eles nunca precisam
saber quem as pessoas são e, sim, como são.
Amizade instantânea, para
sempre.
Foi um (a) polaróid - e
nem sei o porquê de ser um (a) polaróid. Se eu pudesse dar uma trilha seria “No
Expectations”, dos Stones, com slide guitar do Brian Jones - uma das últimas
gravações desse pisciano que se fodeu por viver demais.
Colonizamos o lugar. E o
João, dono do Beatles, se virou nos trinta pra tocar o que nos deu na telha.
Eu, que “não amo ninguém,
parece incrível...”, engolia a música do Cazuza à seco, apertava o meu cinismo
reativo entre os dedos, estrofe por estrofe, á medida que os dois me acolhiam
em cumplicidade – me jogo do vigésimo andar por uma pessoa boa. Admiráveis
demais para ser verdade.
A primeira coisa que
percebi foi a falta de “fake” que eles mostraram. São pessoas que não armam.
Não emulam cultura, nem ideologias broxiudas. São autênticos porque estão na
contramão dessa coisa malandra e diligente que as criaturas da noite proliferam
(com raríssimas exceções, que graças a Deus, eu conheço): o papapuêra de
boutique, chuta-manga, mijão-de-porta.
São roqueiros. O que pressupõe
inteligência, paudurecência, jovialidade e humor.
Nos confessamos mutuamente
por mais ou menos umas oitocentas horas, desde então. Nossas crueldades
similares encontraram eco pelas madrugadas. Quando não vou, ficam putos (ela é
a Sininho má, do universo alternativo da chantagem emocional). Mas eu caio
porque gosto muito deles.
O autoconhecimento
coletivo passa a bola para o ser objetivo, para o indivíduo mente aberta. Essa
é a banda que pensamos em montar (e sem edital do governo, sem bolsa cultura).
Já tentei ficar longe
deles uma centena de vezes. “Mas, por quê?”, perguntariam.
Talvez porque o amor e a
amizade verdadeira sejam um pouco assim mesmo: assustadores. Ou a solidão seja um vício esquisito,
um presente contínuo assedioso e contumaz. Medo de perder – é preciso ser muito
escroto pra pensar assim, mas penso.
Numa época em que temos
que ser muito loucos, ou muito profundos, rebuscados e politizados (filosobóides),
conhecer pessoas como eles, que transmutam o conceito de simplicidade em algo
real e que não desistem de você, é uma sorte. E até alguém como eu sabe que
isso não se encontra em qualquer lugar.
Eu os amo. Good morning, good morning.
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